segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre Barcelona e Santos

Todos já opinaram, agora creio ser minha vez. Vou falar um pouco sobre Santos e Barcelona. Não sobre as políticas desses clubes, ou sobre como administram as categorias de base (ótimas, por sinal), mas sobre o jogo, os 90 minutos que separaram uma massa de esperançosos (eu, inclusive) da decepção.

Sim, decepção. Foi isso que aconteceu ontem em Yokohama. E não faltou talento nem oportunidades ao Santos. Faltou preparo psicológico, principalmente. Vou dizer o porquê.

Dizem que chegar ao topo é mais fácil do que permanecer nele. E o Santos chegou ao topo. Começou a caminhada perdendo o título paulista de 2009, para um excelente Corinthians, que contava com as excelentes atuações do excelente Ronaldo. Naquele time, havia garotos ainda tímidos, sem cabelos moicanos, que tinham acabado de subir ao profissional. Perderam, aprenderam, evolíram.

Em 2010, já mais experientes e contando com o reforço de Robinho, alguns daqueles jovens ajudaram o Santos a vencer o título paulista e a Copa do Brasil. Fizeram jogos maravilhosos, encantaram o país, destilaram habilidade. Ficaram famosos, foram convocados para a Seleção Brasileira, foram taxados de promessas para 2014, mudaram o cabelo.

Mas ainda faltava conquistar a América. Eram famosos e temidos no Brasil, mas o resto do continente ainda precisava temê-los.

Em 2011, jogando uma Libertadores com resultados fora do comum, como a eliminação de todos os brasileiros (principais concorrentes ao título, já que Boca e River nem disputaram a competição), o Santos conquistou a América. Os jogadores continuaram valorizados, taxados como esperança para a Seleção Brasileira.

Faltava agora conquistar o mundo. Mas, internamente, não faltava mais. Os jogadores já são famosos, milionários, discutem seus contratos a cada seis meses. Na Seleção, recebem a camisa de titular, com numeração já vestida por lendas como Pelé e Romário. Na cabeça deles, nada mais precisava ser conquistado. Na realidade, ainda faltava jogar o Mundial.

E chegou o confronto esperado com o temido Barcelona. O time espanhol não é imbatível. Já perdeu para Rubin Kazan e Getafe, empatou com Real Sociedad, só para citar alguns resultados recentes. Talvez sejam exceções, pois no mesmo período goleou Real Madrid, venceu Manchester United com autoridade, fez jogos memoráveis contra diversos outros times.

Mas não é imbatível.

Nenhum time foi, é ou será.

No jogo do último domingo, vimos uma mistura de pensamentos dos santistas. Um pensava: "olha, o Messi, como ele joga bem e... opa, me driblou com facilidade. Que jogador!" Outro imaginava: "Dá para ganhar do Barcelona, é só jogar como sempre jogamos." Aquele dizia a si mesmo: "Que frio!"

Asim, nenhum deles jogou com a garra que usara contra o Peñarol, com o sangue nos olhos que ditou a atuação contra o Santo André, com a habilidade e leveza igual ao jogo contra o Naviraiense (é assim que escreve?).

Estavam cansados, sim, afinal era o último jogo da temporada. Mas isso não é o motivo principal. Jogaram sem raça, sem vontade, com medo de perder. Tiveram duas chances, cara a cara com Victor Valdes, e perderam as duas. Da forma como jogaram, perderiam para qualquer outro time.

Jogaram como imaginaram que o Barcelona iria jogar, já que todos sabem que a diferença técnica entre ambos é muito grande.

E o Barcelona jogou sério, da forma como treina diariamente. Foi coletivo, perfeito nos passes e marcou com afinco. O resultado, e o troféu, foram consequência. Aprendeu tudo isso após anos sem títulos, sem bons jogos, com jogadores mais interessados em cifras do que na camisa que veste. E agora aplica na prática o aprendizado de décadas, somados com uma geração indescritível, jogando no nível máximo da técnica, da tática e da vontade.

Mas ainda não é imbatível.